Os "Cabeças de Turco"
*** Texto publicado em maio de 1941 - por Adido Palestrino
Creio que daqui a cinquenta anos, quando, talvez, eu não exista mais, CONTINUANDO PORÉM A EXISTIR O PALESTRA - O PALESTRA CONTINUA, como diz o De Martino - o vezo que toma os palestrinos a cada derrota do seu quadro, também continuará, sem esperanças de desaparecer. É este, sem dúvida alguma, um vezo que nasceu com o Palestra e, logicamente, só poderia morrer com o Palestra, mas, o Palestra... não morrerá.
Na hora da desdita, o palestrino - triste e cabisbaixo, ou então, muito zangado - limita-se a criticar. Não sabe fazer outra coisa. Critica em primeiro lugar, a diretoria; critica, depois, os jogadores, critica o campo, os juízes, a Entidade diretora, tudo. Por fim, na ânsia desastrada de desabafar, acaba criticando a si mesmo, porque, sendo ele um sócio e um torcedor, ao mesmo tempo, criticando os palestrinos de todos os tipos, critica, logicamente, a si mesmo.
Que se há de fazer? - Nada. Moléstia sem cura.
Todos aqueles que porfiam, desde a sua fundação, nas hostes palestrinas conosco, devem estar lembrados, com certeza, de todas as crises e de todos os casos em que determinados jogadores, determinados diretores, tiveram que bancar, como soe dizer-se vulgarmente, os "CABEÇAS DE TURCO". Se não se encontra um culpado, um "BODE ESPIATÓRIO", não há sossego para o palestrino na hora da desgraça.
Eu me lembro perfeitamentede todos os jogadores palestrinos que passaram pela "GUILHOTINA" da bilis concentrada do "FAN" palestrino.
Quando o Palestra tornou-se um clube de peso, o jogador visado foi Ministro. No dia da derrota, a culpa recaia no Ministro, que não se interessara bastante no encontro, que matara o jogo de Caetano, que se demonstrara displicente com o resultado do encontro, e o resto. Isto, o que se diz hoje de um jogador "CABEÇA DE TURCO", dizia-se também naquela época de iniciação palestrina.
Depois de Ministro, foi o Heitor, o "ETTORE", lendário dos palestrinos, nas suas expansões delirantes. Houve um curto período também para Picagli, mas o caso Picagli foi de pouca duração.
Cada vez que o Heitor devia jogar contra o Paulistano era aquela incrivel "LADAINHA" de sempre: o homem contra os pupilos de Antonio Prado Junior, não sabia ou não queria jogar, não sabia chutar em gol, não queria ganhar o jogo.
Depois, veio a vez do Romeu. A cada derrota do Palestra, lá ia no embrulho do mais espalhafatoso desabafo hepático dos palestrinos, o nome do pobre Romeu, que até, as iras das Julietas palestrinas, tinha que suportar, com franciscana paciência.
Veio a vez de Jurandyr. E foi aquela tragédia que todos sabem.
No fim da série, está presentemente o Luizinho Mesquita. Nunca, na minha longa vida de cronista bisbilhoteiro esportivo, vi eu tanta paixão, em formas diversas, envolver um jogador como se dá com o "Caso" do Luizinho. Nenhum jogador, no Palestra, ou fora dele, teve o privilégio de açambarcar tanta defesa iperbólica e tanta censura ilimitada, como o Luizinho. Ou o Luizinho, no gênero futebolístico, é uma personalidade inconfundível, ou se trata de um episódio de loucura coletiva.
O Luizinho pode-se orgulhar de representar na história, longa e rica, de todos os episódios mais característicos do Palestra, o maior "CABEÇA DE TURCO" da sua produção futebolística.
Para mim, o fato não tem expressão individual. Cito-o apenas como exemplo. Porque estou convencido, ha muito tempo, que o palestrino em geral, salvo várias louváveis exceções, tem mais queda para destruir com insulsas criticas, do que construir com a sua colaboração sensata.
O ESTÁDIO... INACABÁVEL... E A PISCINA, QUE O DIGAM. Mesmo porque, destruir é mais fácil do que construir. E custa menos tempo, menos dinheiro e menos aborrecimento.
Paciência!
No entanto, não desanimemos.
Façamos como o De Martino, o velho De Martino, o eterno otimista de todos os tempos, sempre alegre e confiante que nunca, jamais desespera. A Piscina virá. O Palestra continua.
A Piscina... virá. O Palestra... continua.
Vincenzo Ragognetti - O Adido Palestrino
Retirado do MEMORIAL "WALTER PELLEGRINI"